Olho maior que a barriga



A comida descartada em restaurantes, representa mais da metade do lixo produzido por ano no país

Auxiliar de cozinha Sebastiana Santos, mãe de três filhos, de segunda à sexta deixa as crianças em casa para trabalhar no restaurante Delle’s, um ponto comercial que atende inúmeros trabalhadores do bairro Ipiranga, na região Noroeste de Belo Horizonte.
De manhã ela prepara a comida que vai ser servida no self-service pelo preço de R$ 3,90. Com o valor pode-se comer à vontade, e os pratos são bem apetitosos. Desde um quiabinho com angu, comida típica da culinária mineira, a um bom churrasquinho de picanha de boi preparado na chapa. Se o cliente preferir pode pedir com bastante cebola!
São mais de 30 receitas bem expostas nas bandejas. A clientela chega sedenta por comida e enche o prato.
O motorista autônomo Hélder Pereira, freqüentador assíduo do restaurante, em meio a uma montanha de arroz, batata frita, macarronada, frango grelhado e tutu, se mostra fartado. A gula foi tanta que ele comeu, comeu e ainda deixou no prato quase duzentos gramas do que foi servido minutos atrás.
Toda gulodice vai ser um trabalho a mais para a Sebastiana. O que sobrou no prato do motorista autônomo Hélder Pereira é jogado no lixo juntamente com a sobra de inúmeros pratos. Comida que segundo a auxiliar de cozinha daria para alimentar os filhos que ficaram em casa. "É muita tristeza jogar fora toda essa comida. Agora esse desperdício vai alimentar uma outra boca, a boca desse balde de lixo. Essa comida dá para alimentar um ser humano. Talvez hoje, nem na minha casa vai ter uma comida assim para eu alimentar os meus filhos", lamenta a funcionária vendo a comida cair no balde.
O comerciante, Heraldo Cota Oliveira, já no ramo de restaurantes há 30 anos, resolveu no ano passado implantar um sistema para que os clientes não deixem sobrar comida no prato. Ele afixou no interior e na fachada do estabelecimento inúmeros cartazes que dizem: " Repita, mas sem desperdício!".

A idéia , segundo o comerciante foi bem aceita no início, mas hoje a clientela ainda insiste em deixar sobras de comida no prato.
" A gente até que tenta, mas mudar a cultura do cliente é difícil", comenta.
Além da comida que sobra nos pratos dos clientes, a comida que restou nas bandejas e que não foi utilizada também vai parar na lata do lixo. É alimento limpo, como macarrão, saladas e carnes. Mas esse desperdício alimentar não é pura maldade. No Brasil que tem fome, os comerciantes de bares, lanchonetes e restaurantes preferem jogar o excedente industrializado no lixo. É uma medida para evitar problemas legais, como ter que arcar com a responsabilidade civil e criminal no caso da comida intoxicar ou causar a morte de alguém.

Como resultado, a comida que é descartada nesses estabelecimentos representa mais da metade do lixo produzido por ano no país. Ou seja, de 15% a 50% do que é preparado para atender a clientela vai ser recolhido pelos caminhões de lixo. Dados da Ação de Cidadania do Rio de Janeiro, todo esse desperdício daria para alimentar diariamente mais de 10 milhões de pessoas.

Segundo o Ministro José Graziano, desonerar o doador de boa fé da responsabilidade civil e criminal por dano ou morte de alguém que se alimenta de comida doada é um problema para o Ministério da Fome. "Vamos trabalhar para que as pessoas possam doar alimentos sem a preocupação de serem processadas no futuro. O Brasil não pode conviver com a fome e com a miséria", afirma Graziano.
Atualmente o projeto do atual governador do estado do Ceará, Lúcio Alcântara que trata do assunto, está parado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara em Brasília. O projeto foi elaborado na época em que o governador era senador pelo estado cearense. Além da ação contra as doações dos excedentes, existem outras medidas para minimizar o sofrimento de inúmeros brasileiros como, por exemplo, isentar as indústrias de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) relativo à doação. Hoje as indústrias ou fábricas que desejam doar qualquer espécie de alimento precisam pagar o imposto desses produtos.
As medidas fazem parte de um pacote de leis chamado Estatuto do Bom Samaritano, parado no Congresso Nacional. O estatuto inclui também o desconto do Imposto de Renda para quem doar comida ou máquinas que industrializem os alimentos, esse desconto, já existe para as empresas que contribuem com doações em dinheiro.

Fonte: Revelação On-Line

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